Nasce mais uma manhã
no meu belo e triste sertão. Belo, porque se olho pela janela, vejo a liberdade
passeando por entre as árvores, as poucas que a seca não destruiu, as velhas
algarobas que dão sombra no terreiro. Vejo meus filhos brincando na terra
firme, sem medo algum. Mas, é tudo muito triste, vejo o céu azul de doer nos
olhos, nenhuma nuvem desfila no infinito, é a chuva que não vem. Como dói essa
seca.
Meu nome é João, sou
um guerreiro, pois mesmo com tantas dificuldades não arredo o pé do meu sertão.
Aqui nasci e me criei, conheci a bela Maria e com ela me casei, da nossa união
nasceram Maria Flor, Maria Clara, Maria Helena, e o meu primogênito Antônio
Carlos, meu Toninho que me ajuda na roça. Apesar de tudo minha maior felicidade é vestir
meu gibão e minha bota de couro, montar no meu cavalo e sair cortando estradas.
Aqui no Rancho
Paraíso, o sol nasce mais cedo, e acordamos quando as estrelas ainda desfilam
timidamente no céu. A vida não é fácil, deixo minha esposa e minhas filhas, e
vou com o Toninho para a plantação, mas meus olhos trasbordam feito um rio de
lágrimas, ao ver os pés de feijão, arroz, milho, batata, tomate... Morrerem aos
poucos. Retornamos para casa e encontro minha família lamentando a triste seca.
Minha esposa pensa em nos mudarmos para são Paulo, afinal tantos nordestinos
toma esse rumo, e alguns se dão bem.
Fico minutos, talvez
horas pensando nessa decisão. Como posso deixar minhas raízes, meu pequeno
chão, lá é um mundão muito grande, mas também muito vazio, não tem a
simplicidade do meu lar. Então decido esperar mais algum tempo e quem sabe a
chuva possa chegar.
Chega o mês de abril
e nenhuma gota molhou o chão. Minha esposa cozinha no fogão à lenha um pouco de
comida que nos resta, enquanto o radinho de pilha sobre a banca de madeira toca
luar do Sertão. Ela olha com o olhar triste e fala:
- Tá vendo, João!
Nada de chuva! O que vamos fazer? O que temos está acabando!
- Calma minha Maria,
é preciso ter fé, vamos vender duas vaquinhas e ficarmos com uma, para o leite
da pequena Maria flor. E assim vamos esperar até o mês seguinte. Pois penso que
não sobrevivo à vida na cidade grande, sem meu velho lampião, mesmo com energia,
sem o cantar do calo no terreiro e os pássaros no velho telhado. Não vivo sem minhas estradas de terras
claras, e as porteiras dando passagem pro meu Paraíso. O que faria sem a comida
feita no fogo a lenha? Sem sonhos? Sem liberdade?
Os dias passam,
e a esperança morre aos poucos. Infelizmente, os rios, açúdes e barragens já secaram. Minha esposa começa arrumar as malas, e eu
disfarço meu olhar repleto de lágrimas. O dia está claro, Mas aqui dentro tudo
é triste, tudo é saudade. Penso como está vazio o meu sertão. As flores já
dizem adeus, o vento leva as folhas secas, a terra quente não queima mais que o
meu coração. Aqui morrem meus sonhos, e levo só a saudade.
Ao cair da noite, penso
que jamais encontrarei um luar e um tapete de estrelas tão belo quanto esse.
Mas, aos poucos me despeço de tudo, pois na manhã seguinte é hora de dizer
adeus. É hora de o sertanejo deixar de sonhar. Essa com certeza será o começo
de uma nova vida, mas bem menos radiante do que a que vivi durante meus
quarenta e cinco anos. É melhor dormir e deixar que a noite leve as dores
embora.
Quando a esperança
já havia partido, acordo e ouço pingos fortes no telhado, logo acordo minha
amada e meus filhos, para ter certeza que não é sonho. A noite ainda está
escura, abro a janela e uma rajada de vento sopra no meu rosto, o cheiro de
terra molhada invade a casa inteira, a goteira pinga forte, afundando o barro
firme que a seca assim o transformou. Então percebo que não é ilusão, é
realidade e a passarada já faz festa nas arvores. É chuva forte caindo no
sertão.
Minutos depois, eu e
minha família saímos no meio da chuvarada, na lama, na noite fria. No entanto,
logo o dia chega, dando lugar a uma bela e inesquecível manhã de céu coberto de
nuvens. Isso é benção de Deus. As roupas retornaram para o armário, não haverá
mais despedidas, não iremos mais partir, pois o inverno chegou, e a tristeza já
seguiu estrada a fora. Agora é hora de plantar novos sonhos. Valeu a pena
esperar mais um pouco, pois o sertanejo precisa acreditar sempre em dias
melhores. Aprendemos a lutar, não desistir e sonhar. Pois, como dizia o poeta “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
Oi Linda! Que história triste .Mas esta é a relidade dos nossos sertanejos., que vivem de esperanças.Beijos
ResponderExcluirOi Amiga, a estória é muito triste e nem sempre tem esse final
ResponderExcluirO sertanejo se sai do sertão vai fazer o que na cidade grande?
Obrigada pelo carinho
Beijos
Lua Singular
Que delícia de texto! Me lembrou um pouco Monteiro Lobato!
ResponderExcluirOi querida, que linda história!!
ResponderExcluirSenti muita falta daqui ♥
Beijos e tenha uma ótima semana!!
Muito bom!
ResponderExcluirNunca podemos perder a esperança, porque um dia a bênção sempre vem!
Beijos,
http://mylife-rapha.blogspot.com
Um dia a chuva passa, e vem um lindo sol. A gente tem que acreditar!
ResponderExcluirSaudades Luh, que Deus te guie e te abençoe. ♥
Luh na caixa de fã, o código em cima deu erro, tira ela, na coluna do blog.
Um beijo amiga.
♥ http://pamellaferracini.blogspot.com.br ♥
Oi, Luzia, como vai? Desejo que seu Natal seja maravilhoso e 2015, inesquecível! Um abraço!
ResponderExcluirQue beleza! Capturar a delicadeza da chuva no Sertão é algo encantador... Encantada estou!
ResponderExcluirQuerida amiga
ResponderExcluirHá quanto tempo...
Além de recolher a inspiração
deste maravilhoso espaço
de sentimentos e reatar a amizade,
aproveito a visita para convidá-la
a partilhar a alegria,
de ouvir um poema de minha autoria
musicado em Minas Gerais.
O mesmo se encontra no meu blog
www.sonhosdeumprofessor.blogspot.com.br
e para mim,
ter este poema
escutado por pessoas
que fazem do mundo virtual,
um mundo melhor,
será um tributo a felicidade.
Lindo lindo lindo!
ResponderExcluirAh seca é terrível, mas quando vem a chuva...
Adorei como escreveste.
beijos
e ah, venha comemorar o aniversário do My life
http://mylife-rapha.blogspot.com.br/2015/03/aniversario.html
Boa semana!