6 de agosto de 2014

Um amor além das barreiras sociais.


       Junho, 2007. Uma grande chuva cai sobre a cidade do Rio de janeiro, assombrando muitos moradores, especialmente os que residem nas grandes comunidades popularmente conhecida por favelas. Dentre tantos moradores humildes lá vive Vitória; garota simples, mas de bom coração. Seu nome combina com sua história de vida. Desde cedo teve de enfrentar muitas barreiras.
       Há pouco mais de cinco anos, a jovem de 20 anos viu sua mãe ser assassinada numa esquina qualquer da Rocinha, onde Vitória sempre viveu. Os motivos da morte? Nenhum, apenas o assaltante queria dinheiro como ela não tinha, tirou-lhe a vida. Triste, lamentável, porém, isso não é ficção, é realidade, acontece sempre.
      Por isso, ela teve de morar com sua avó materna. Muito cedo deixou os estudos para trabalhar como diarista, e nas poucas horas vagas ajudava a avó. Mesmo com tantas dificuldades, nunca seguiu por caminhos errados. Mas, não estou aqui para falar somente de tragédias, irei falar de uma linda história de amor, que venceu preconceitos.
       Numa manhã de quarta-feira, um dia após a enxurrada, a prefeitura do Rio, manda mais médicos para a Rocinha, para tratar de pessoas machucadas, e de todas as doenças causadas pela grande chuva.
       Vitória caminha apressada pelos becos e vielas, quando tropeça e esbarra num jovem, vestindo um lindo jaleco branco. Alto, Vinte e poucos anos, nem gordo, nem magro, o peso ideal. Cabelos castanhos, pele clara, olhos verdes. Ela: Olha, admira sua beleza, e pedi desculpas. Ele: Olha para ela, menina de pele morena, cabelos cacheados, estatura média, e os olhos de jabuticaba. Então, Fixa o olhar no dela e a desculpa. “Bonita por natureza, sem truques, sem maquiagem, nem silicone, nem botoques” (Pensa o rapaz).
       Naquele momento apenas um olhar e nada mais. Ambos tinham compromissos. Foram caminhando sem pressa admirando o dia que surgia mais claro, com poucas nuvens no céu, anunciando que a tempestade havia passado. Nem parecia que havia dito tantos destroços no dia anterior. Os jovens continuaram seus percursos com o coração flutuando. Algo havia mudado, mas ainda era cedo para entender que estava brotando ali um verdadeiro amor.
       Naquele dia, ela trabalhou no bairro de Ipanema, zona Sul do Rio, na casa de uma senhora. Sofisticada, porém um tanto exigente, a viúva observou cada detalhe, até os minúsculos objetos. Vitória ficou um tanto apreensiva, mas logo o dia passou, e ela decidiu não mais fazer faxina na casa daquela senhora de nariz em pé.
       Ele trabalhou nos postos de saúde da comunidade, e no fim do dia voltou para casa, onde residia com a mãe e mais dois irmãos.
       Na semana seguinte, a avó de vitória adoece. Febre, dor de cabeça, no corpo, entre outros sintomas.
      - Vou leva-la ao posto de saúde. - Disse Vitória. E a senhora Laura concordou. O posto estava cheio, mas devido à febre alta, o atendimento não tardou. “Pode entrar” – Disse o atendente. Ao abrir a porta, se deparou com o jovem médico que estava tirando seu sono há uma semana. E novamente seus olhares se cruzaram.
       Laura, foi encaminhada para um hospital, estava com dengue. Por coincidência, o jovem de olhos verdes que se chamava André Luís, também atendia naquele hospital.  Então os encontros, os gestos, os olhares, as conversas tornaram-se frequentes.  Quando Laura recebeu alta, André sabia que não iria ver Vitória com tanta frequência. Por isso convido-a para jantar, naquela mesma noite. Apesar dos abismos sociais que os separavam, ela não pôde recusar, pois seu coração já lhe pertencia.
       Ela pensou ser um sonho. Batom nos lábios, vestido simples, sandália de salto média, e os cabelos soltos ao vento. Mas, sentia-se linda por dentro e por fora, pois sairia com o único homem que tocou seu coração.
       20h30min, o carro buzina em frente à sua humilde casa.  Seu coração está radiante. Mas, a avó, não aprova aquele possível namoro, pois não acredita que um médico rico queira algo sério com uma moça simples da favela. Mas ela segue seu coração, e vai viver seu amor sem medo algum, pois quando é verdadeiro só acontece uma única vez na vida, então é preciso vive-lo intensamente.
        O restaurante era a beira mar. A brisa da noite, move delicadamente seus cabelos encaracolados, e o brilho da lua deixa sua pele ainda mais bonita. André suspira enquanto observa os traços meigos de seu rosto. A boca e o batom vermelho é um convite a um apaixonado beijo. Enquanto se beijam, toca uma musica romântica. Ambos pensam: “Esta é a noite mais feliz de toda minha vida”.
       - Você é a menina mais linda que já conheci. – Declara André. Ela fica sem graça, e agradece com mais um beijo.  Naquela mesma noite eles começaram um apaixonante romance, mesmo sabendo que iria enfrentar inúmeros obstáculos.
       Vitória voltou para casa repleta de vida, com o coração explodindo de felicidade. Mas, sua avó não ficou feliz, tinha medo de a neta sofrer por causa daquele amor. Ela preferia não ouvir. Todas as noites, ficava na janela, observando as estrelas, e falando em pensamento sobre aquele amor. Sempre a espera do seu amado, que como nos filmes, jogava rosas e bilhetes apaixonados.
       Ele já havia contado para sua mãe que estava amando e namorando uma moça simples da Rocinha, mas sua mãe não aceitava de maneira alguma. Mesmo assim, quis conhece-la. Quando a pobre menina viu a senhora, sua futura sogra, não acreditou. Era a mesma de nariz em pé, que ela havia feito uma faxina em sua casa.  A senhora, de nome Silvia, odiou saber que aquela garota estava namorando seu filho, e então disse na presença dos dois que não aceitava e que o filho escolhesse entre continuar morando com ela, ou namorar uma favelada.
       André não pensou duas vezes, subiu, pegou algumas roupas, e foi embora com Vitória. Ao sair disse à sua mãe:
       - Pois bem minha mãe, se não tem espaço na sua vida para a mulher que eu escolhi, também não tem para mim. E foi embora. Coração estilhaçado, mas com a certeza de ter feito a coisa certa, pois não admitia preconceitos.
        Silvia fez de tudo para destruir aquele amor. Por incentivo dela, todos os amigos se afastaram dele, mas eles permaneceram unidos. Então, seis meses depois, se casaram, a avó dela resolveu aceitar, e todos foram morar numa linda casa perto da praia. Ela terminou os estudos, fez enfermagem e trabalha com ele na mesma comunidade a qual uniram seus destinos para sempre. Apesar da sociedade preconceituosa o amor resistiu a tudo.
       Hoje, sete anos após eles terem se conhecido, dividem suas alegrias com seus dois filhos, a Carol, filha legítima, e o Lucas, filho escolhido por Deus. Eles continuam ajudando na comunidade, e dão palestras de incentivo ao não preconceito. Com o lema: somos todos iguais: temos sonhos, temos garra, coragem de vencer, força para jamais desistir, temos um coração repleto do amor de Deus. E quem não tem nada disso, tem apenas dinheiro, e um jeito torto de olhar o mundo, um modo triste de viver em sociedade.
        Este é apenas um exemplo de amor que venceu barreiras por causa das classes sociais distintas. Infelizmente existem muitos que não querem nem ao menos conviver um único dia com alguém que não seja do mesmo nível social. Isto é triste, é real, precisa ser mudado.
       E quanto ao casal, assim como nos contos mais românticos, viveram felizes, pois o para sempre é uma ilusão, o que temos é o dia a dia, o hoje vivido sem medo de lutar quando for preciso. E que o amor sempre vença. Até mesmo Silvia, mãe de André, resolveu aceitar aquele amor. Embora, algumas vezes, ainda julgue as pessoas por cor ou classe social. Afinal, até que a sociedade se cure por completo desse mal chamado preconceito muitas histórias ainda serão escritas muitas histórias.
 Luzia Medeiros 
THE END.

Essa história, não teve um fim trágico como Romeu e Julieta, pois os personagens tiveram coragem de enfrentar suas famílias em prol do verdadeiro amor.  E elas uniram-se, não por causa de algo trágico, mas porque entenderam, que muito mais bonito, é viver em paz, buscando o melhor de cada pessoa, sem tentar cessar o amor.

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