Junho,
2007. Uma grande chuva cai sobre a cidade do Rio de janeiro, assombrando muitos
moradores, especialmente os que residem nas grandes comunidades popularmente
conhecida por favelas. Dentre tantos moradores humildes lá vive Vitória; garota
simples, mas de bom coração. Seu nome combina com sua história de vida. Desde
cedo teve de enfrentar muitas barreiras.
Há pouco
mais de cinco anos, a jovem de 20 anos viu sua mãe ser assassinada numa esquina
qualquer da Rocinha, onde Vitória sempre viveu. Os motivos da morte? Nenhum,
apenas o assaltante queria dinheiro como ela não tinha, tirou-lhe a vida.
Triste, lamentável, porém, isso não é ficção, é realidade, acontece sempre.
Por isso,
ela teve de morar com sua avó materna. Muito cedo deixou os estudos para
trabalhar como diarista, e nas poucas horas vagas ajudava a avó. Mesmo com
tantas dificuldades, nunca seguiu por caminhos errados. Mas, não estou aqui
para falar somente de tragédias, irei falar de uma linda história de amor, que
venceu preconceitos.
Numa
manhã de quarta-feira, um dia após a enxurrada, a prefeitura do Rio, manda mais
médicos para a Rocinha, para tratar de pessoas machucadas, e de todas as
doenças causadas pela grande chuva.
Vitória
caminha apressada pelos becos e vielas, quando tropeça e esbarra num jovem,
vestindo um lindo jaleco branco. Alto, Vinte e poucos anos, nem gordo, nem
magro, o peso ideal. Cabelos castanhos, pele clara, olhos verdes. Ela: Olha,
admira sua beleza, e pedi desculpas. Ele: Olha para ela, menina de pele morena,
cabelos cacheados, estatura média, e os olhos de jabuticaba. Então, Fixa o
olhar no dela e a desculpa. “Bonita por natureza, sem truques, sem maquiagem,
nem silicone, nem botoques” (Pensa o rapaz).
Naquele
momento apenas um olhar e nada mais. Ambos tinham compromissos. Foram
caminhando sem pressa admirando o dia que surgia mais claro, com poucas nuvens
no céu, anunciando que a tempestade havia passado. Nem parecia que havia dito
tantos destroços no dia anterior. Os jovens continuaram seus percursos com o
coração flutuando. Algo havia mudado, mas ainda era cedo para entender que
estava brotando ali um verdadeiro amor.
Naquele
dia, ela trabalhou no bairro de Ipanema, zona Sul do Rio, na casa de uma
senhora. Sofisticada, porém um tanto exigente, a viúva observou cada detalhe,
até os minúsculos objetos. Vitória ficou um tanto apreensiva, mas logo o dia
passou, e ela decidiu não mais fazer faxina na casa daquela senhora de nariz em
pé.
Ele
trabalhou nos postos de saúde da comunidade, e no fim do dia voltou para casa,
onde residia com a mãe e mais dois irmãos.
Na
semana seguinte, a avó de vitória adoece. Febre, dor de cabeça, no corpo, entre
outros sintomas.
- Vou
leva-la ao posto de saúde. - Disse Vitória. E a senhora Laura concordou. O
posto estava cheio, mas devido à febre alta, o atendimento não tardou. “Pode
entrar” – Disse o atendente. Ao abrir a porta, se deparou com o jovem médico
que estava tirando seu sono há uma semana. E novamente seus olhares se
cruzaram.
Laura, foi encaminhada para um hospital, estava
com dengue. Por coincidência, o jovem de olhos verdes que se chamava André Luís,
também atendia naquele hospital. Então
os encontros, os gestos, os olhares, as conversas tornaram-se frequentes. Quando Laura recebeu alta, André sabia que
não iria ver Vitória com tanta frequência. Por isso convido-a para jantar,
naquela mesma noite. Apesar dos abismos sociais que os separavam, ela não pôde
recusar, pois seu coração já lhe pertencia.
Ela pensou
ser um sonho. Batom nos lábios, vestido simples, sandália de salto média, e os
cabelos soltos ao vento. Mas, sentia-se linda por dentro e por fora, pois
sairia com o único homem que tocou seu coração.
20h30min,
o carro buzina em frente à sua humilde casa.
Seu coração está radiante. Mas, a avó, não aprova aquele possível
namoro, pois não acredita que um médico rico queira algo sério com uma moça
simples da favela. Mas ela segue seu coração, e vai viver seu amor sem medo
algum, pois quando é verdadeiro só acontece uma única vez na vida, então é
preciso vive-lo intensamente.
O
restaurante era a beira mar. A brisa da noite, move delicadamente seus cabelos
encaracolados, e o brilho da lua deixa sua pele ainda mais bonita. André
suspira enquanto observa os traços meigos de seu rosto. A boca e o batom
vermelho é um convite a um apaixonado beijo. Enquanto se beijam, toca uma
musica romântica. Ambos pensam: “Esta é a noite mais feliz de toda minha vida”.
- Você é
a menina mais linda que já conheci. – Declara André. Ela fica sem graça, e
agradece com mais um beijo. Naquela
mesma noite eles começaram um apaixonante romance, mesmo sabendo que iria
enfrentar inúmeros obstáculos.
Vitória
voltou para casa repleta de vida, com o coração explodindo de felicidade. Mas,
sua avó não ficou feliz, tinha medo de a neta sofrer por causa daquele amor.
Ela preferia não ouvir. Todas as noites, ficava na janela, observando as
estrelas, e falando em pensamento sobre aquele amor. Sempre a espera do seu
amado, que como nos filmes, jogava rosas e bilhetes apaixonados.
Ele já
havia contado para sua mãe que estava amando e namorando uma moça simples da
Rocinha, mas sua mãe não aceitava de maneira alguma. Mesmo assim, quis
conhece-la. Quando a pobre menina viu a senhora, sua futura sogra, não
acreditou. Era a mesma de nariz em pé, que ela havia feito uma faxina em sua
casa. A senhora, de nome Silvia, odiou saber
que aquela garota estava namorando seu filho, e então disse na presença dos
dois que não aceitava e que o filho escolhesse entre continuar morando com ela,
ou namorar uma favelada.
André
não pensou duas vezes, subiu, pegou algumas roupas, e foi embora com Vitória.
Ao sair disse à sua mãe:
- Pois
bem minha mãe, se não tem espaço na sua vida para a mulher que eu escolhi,
também não tem para mim. E foi embora. Coração estilhaçado, mas com a certeza
de ter feito a coisa certa, pois não admitia preconceitos.
Silvia
fez de tudo para destruir aquele amor. Por incentivo dela, todos os amigos se
afastaram dele, mas eles permaneceram unidos. Então, seis meses depois, se casaram, a avó dela
resolveu aceitar, e todos foram morar numa linda casa perto da praia. Ela
terminou os estudos, fez enfermagem e trabalha com ele na mesma comunidade a
qual uniram seus destinos para sempre. Apesar da sociedade preconceituosa o
amor resistiu a tudo.
Hoje,
sete anos após eles terem se conhecido, dividem suas alegrias com seus dois
filhos, a Carol, filha legítima, e o Lucas, filho escolhido por Deus. Eles
continuam ajudando na comunidade, e dão palestras de incentivo ao não
preconceito. Com o lema: somos todos iguais: temos sonhos, temos garra, coragem
de vencer, força para jamais desistir, temos um coração repleto do amor de
Deus. E quem não tem nada disso, tem apenas dinheiro, e um jeito torto de olhar
o mundo, um modo triste de viver em sociedade.
Este é
apenas um exemplo de amor que venceu barreiras por causa das classes sociais
distintas. Infelizmente existem muitos que não querem nem ao menos conviver um
único dia com alguém que não seja do mesmo nível social. Isto é triste, é real,
precisa ser mudado.
E quanto
ao casal, assim como nos contos mais românticos, viveram felizes, pois o para
sempre é uma ilusão, o que temos é o dia a dia, o hoje vivido sem medo de lutar
quando for preciso. E que o amor sempre vença. Até mesmo Silvia, mãe de André, resolveu
aceitar aquele amor. Embora, algumas vezes, ainda julgue as pessoas por cor ou
classe social. Afinal, até que a sociedade se cure por completo desse mal
chamado preconceito muitas histórias ainda serão escritas muitas histórias.
Luzia Medeiros ♥
THE END.
Essa história, não teve um fim trágico como Romeu e Julieta,
pois os personagens tiveram coragem de enfrentar suas famílias em prol do
verdadeiro amor. E elas uniram-se, não
por causa de algo trágico, mas porque entenderam, que muito mais bonito, é viver
em paz, buscando o melhor de cada pessoa, sem tentar cessar o amor.
O amor é assim...
ResponderExcluirbjokas =)