Este conto está participando
da edição visual do
Desde que ela partiu, em meu coração ficou o silêncio, um vazio
tão imenso quanto o universo. Conhecemo-nos numa manhã de sol ameno, em Maio de
1993. Faz muito tempo desde que a olhei pela primeira vez. Ela era aquele tipo
de mulher que sabia o que queria, totalmente determinada.
Ela era detetive
particular, usava sempre roupas meio masculinas, e apesar de ter no sorriso um
lago transparente, o seu olhar estava sempre atento a tudo o que se passava ao seu redor. E eu era apenas um homem
de meia idade, professor de literatura recém-aposentado. Vivia em meio a solidão,
junto a uma bagunça de um amontoado de livros, revistas e jornais.
Quando ela bateu palmas em frente a minha casa, abri a porta
e a encontrei na calçada. A princípio ela olhou tão séria para mim que senti certo
receio, mas logo ela sorriu um pouco e disse que eu não precisava olhá-la com
olhar surpreso, pois ela só queria me fazer algumas perguntas. Convidei-a para
entrar. Logo aquela casa antes tão apagada acabara de ganhar brilho, até parecia
que a brisa da manhã havia chegado junto com ela.
Ela estava investigando uma chacina que havia acontecido há
algum tempo naquela casa. O assassino havia matado os pais e os dois irmãos de
um jovem, e agora ele queria justiça. Fiquei pasmo, havia pouco mais de seis
meses que eu estava morando naquela residência e ninguém nunca havia comentado
sobre aquele fato trágico.
Os dias foram passando, e fomos ficando cada vez mais
próximos. Todos os dias ela ia a minha casa a procura de vestígios do
assassino, mas nada encontrava. Certa vez houve até um beijo meio roubado de
minha parte. Mas, ela era tão profissional que preferiu não misturar as coisas.
Um dia, numa tarde qualquer, o meu telefone tocou. Ao
atender, a voz grave do outro lado perguntou: “Quem está falando, é o professor
Jerônimo?" “Sim”, respondi. “E a detetive Sara está com o senhor?" Novamente
respondi que sim. E a voz masculina começou a nos ameaçar: “Se vocês não
deixarem de investigar este crime, vocês não verão o sol na manhã seguinte." Ele continuou nos ameaçando. "Há
poucos minutos estará chegando ai uma foto de vocês dois, esta é a prova que vocês
estão na minha mira" . Depois disto o carrasco desligou na minha cara.
A foto chegou mesmo minutos depois. Isso me deixou assustado, mas Sara não
recuou, parecia não temer a nada, e avisou a polícia. O delegado mandou dois soldados ficarem de vigia em
frente a casa. Meu coração já tão vivido nunca havia sentido algo tão intenso.
Lembro-me que senti um tremor no corpo inteiro, não era só o medo de morrer, era
medo de perder aquela mulher que mesmo não sendo minha havia tirado a terrível
solidão de dentro de mim.
Quando a noite caiu, ouvimos tiros, vários tiros. E a sirene da polícia que
até hoje ecoa dentro de mim. Agachamo-nos perto da poltrona. A casa parecia um
campo de batalha. Ouço um grito de dor,
e no instante em que levanto o olhar vejo Sara toda ensanguentada, dando o último suspiro. Coloco-a em meus braços, e ela balbucia suas últimas palavras: “Je... eu queria ter ficado com
você, mas eu precisava primeiro desvendar esse crime, por favor, me entenda! Eu
te amo!" Então, ela deu um suspiro profundo e morreu em meus braços. Eu chorei desesperadamente como nunca havia chorado.
Depois, lembro apenas que a polícia entrou depressa, e disse
que havia prendido o assassino. Mas, naquele momento isso pouco importava, ele
havia tirado a vida da mulher que poderia me devolver à vontade de viver que eu
perdera desde que fiquei viúvo. O que me restou foi a fotografia que ele tirou para nos ameaçar. Esta é a única fotografia que tenho dela.
Hoje, vinte anos depois, passo em frente a casa que a
conheci e que a vi partindo. Seguro a foto nas mãos e tento trazer o passado
para perto, colando as lembranças. Colo o sorriso dela, o meu olhar surpreso, e
vejo por trás da imagem dois corações que poderiam ter se amado pelo resto
de suas vidas, mas que o destino não permitiu. O único sonho realizado foi seu
sonho de deteve, pois, ela conseguiu que aquele malvado fosse preso, mas em troca
ela perdera a vida, e levou meus sonhos.
Luzia Medeiros ♥
Triste mas muito lindo. A vida com suas surpresas.
ResponderExcluirBjo no coração.
A via e as suas surpresas! Que bom foi ler aqui! Beijos!
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirTbm estou participando desse projeto e vim conhecer seu conto.
Um pouco medonho.... que coisa!
No meu também tem um morte, acho que a casa é realmente amaldiçoada. rsrs
Gostei!
Beijos
Foi lindo. Há tempos não vejo um texto tão intenso. A verdade, é que muitas vezes me peguei pensando se deixei transparecer meus sentimentos para quem realmente deveria compreendê-los e hoje me vejo em uma encruzilhada, pois não sei se isso um dia se concretizará. O destino as vezes zomba de nós. Talvez nós devessemos viver com um pouco mais de intensidade, o problema é que nós nunca sabemos qual é a medida certa. Um ótimo conto Lu, despertou coisas aqui dentro que eu não queria que saísse.
ResponderExcluirbeijos
Ficou lindo, me envolvi totalmente na história, simplesmente perfeito e super criativo. Uma pena que ela esperou até o ultimo momento para falar o que sentia para ele. ><
ResponderExcluirOi Luzia, que lindo, a vida tem dessas coisas né/
ResponderExcluirTenha um ótimo final de semana, beijos.
Olá Luzia, é realmente um texto muito lindo, onde está por vezes presente a emoção, a tristeza..., mas bonito sem dúvida
ResponderExcluirbj
Puxa, Luzia, que história forte...acho que sendo verdade ou ficção, o amor verdadeiro deveria merecer sempre um final feliz. Bela participação, um abraço!
ResponderExcluirEu amei o conto,de verdade.Ficou clichê,mas a forma como escreveu pareceu uma história nunca escrita antes *_*
ResponderExcluirSério.Ficou lindo <3
Eu amei seu blog aqui.Tu escreve muuuuuito bem *_*
Beeijinhos
http://borboletametamorfoseando.blogspot.com.br/
Parece a vida: esses altos e baixos onde o deslumbramento se confronta com o desespero. Uma perda superada por um encontro. Outra perda insuperável, quando a gente ama demasiado - e ainda mais platonicamente.
ResponderExcluirÉ a vida.
Luh, independente de tudo, voce sempre será para mim uma excelente escritora de contos!
ResponderExcluirMinha número 1 *-*
Que lindo! Adorei a História ^^ Que pena que já nao existem homens assim, sentimentais =/
ResponderExcluirhttp://inspirationsbymeforyou.blogspot.com/
Bjocas fofa =D
Meu Deus, quase chorei aqui, haha. Muito demais, Luzia. Uma história triste, linda, encantadora, chocante e cortante, tudo ao mesmo tempo. Adorei, de verdade. Você escreve muito, muito bem(;
ResponderExcluirBeijo♥
http://menina-do-sol.blogspot.com.br/
Ain que lindo...me emocionei. Para mim vc é uma escritora completa..impossível não se envolver e viajar cm suas palavras. Amo cada post seu... Sou sua fã!
ResponderExcluirxeruh flor
Acho que o conto fala tudo. Eu gostei muito, nem sei o que comentar. Muito bom.
ResponderExcluirHipérboles
@hiperbolismos
Estou aqui hoje por um motivo mais que especial.
ResponderExcluirTenho que dizer que não foi fácil conseguir você para ser meu seguidor,
foi muita motivação impulsionando com postagens e visitas...que atingi 300 seguidores
Agradeço te convidando a visitar a florada do IPÊ junto comigo no FOLHAS DE OUTONO !
Deixo o meu abraço recheado de carinho !!!!!