Ainda recordo com riqueza de detalhes as emoções que senti ao pôr os pés
pela primeira vez naquela rua. Havia muita lama, devido a grande chuva da noite
passada. Senti muito nojo daquela água escura molhando os meus pés. Felizmente
meu pai percebeu minha aflição e logo me pôs nos braços, papai era forte e eu
era só uma garotinha de sete anos. Senti-me tão protegida nos braços dele.
Aquele rio de emoções ainda fervilhava por dentro,queimando feito pequenas fagulhas. Aquele acanhado lugar ainda era estranho demais, para
uma menina acostumada a viver numa rua asfaltada, rodeada de prédios que
tocavam as nuvens. O que me chamou maior atenção foram os meninos brincando no
meio do lamaçal, com as roupas imundas de barro. Mas, com um sorriso bem largo
no rosto e, eu odiando aquela cena, aquele novo mundo ao meu redor.
Senti tanta dor por dentro, uma saudade do conforto do meu
antigo lar, da rua em que sempre vivi. Mas, meu pai havia perdido tudo nos
jogos, isso foi sua maior vergonha. E, por isso, teríamos que viver para sempre
naquele lugar. Lembro-me que a maior
surpresa ainda estava por vir, foi quando entrei no meu novo quarto, que susto
sentir, ele era minúsculo e tinha cheiro de mofo. Eu logo pensei “onde irei
guardar minhas bonecas”. O que eu não imaginava era que, logo elas estariam
nadando na lama em frente a minha casa.
Passei longas noites chorando, olhando o céu nublado, vendo a chuva e o meu mundo debruçando sobre mim, pensando que aquela não era a
minha vida. Mas, tempos depois fui me adaptando, à medida que os novos amigos
foram chegando. A princípio estranhei aquelas brincadeiras, a meninada parecia não gostar de tomar banho, mas, naquele instante isso pouco importava, pois,
eles haviam preenchido a lacuna do meu coração. Não demorou muito para que eu
também fizesse parte do grupo que brincava na chuva e no meio da lama.
Hoje, quase quinze anos depois, distante daquele lugar, daquele ar frio e ao mesmo tempo cinza, eu
sinto falta de tudo, do meu pai, das crianças emporcalhadas de barro e até
mesmo da lama que um dia senti nojo. Pois, aquela era minha nova vida, a
oportunidade que Deus havia me ofertado, para que, eu pudesse conhecer outras realidades,
novas pessoas, outros olhares. Isso me ensinou a enxergar um mundo de
possibilidades, de ir sempre ao encontro do novo, de novas emoções, porque
algumas talvez me marquem eternamente.
(Luzia Medeiros)♥
Oi Luiza! Tudo bom?
ResponderExcluirAcho que passei por algo assim. Meus avós moravam na roça e quando íamos visitá-los, era aquele mundão estranho. Mas, com o tempo, aquele era mais meu mundo que o meu próprio. Lá eu tinha amigos, brincadeiras, enquanto na cidade, ficava só dentro de casa.
Hoje também sinto falta daqueles tempos. Bem, acho que também acabei aprendendo a enxergar mundos diferentes. Lindo seu texto.
Tenha um ótimo dia.
Abraços
http://suinguken.blogspot.com.br/
Lindo texto, Luzia. Me identifiquei, pois tenho uma história parecida. Continuarei visitando seu blog, com certeza!
ResponderExcluirContinue visitando e deixando seus comentários no "A vida em miúdos!". =)
Um grande beijo.
http://avidaemmiudos.blogspot.com.br
Esse texto é daqueles que nos fazem refletir sobre questões simples da vida. Ele nos prova o que todos dizem, que só depois que as coisas passam é que nós percebemos o quão importante aquilo havia sido para nós. Lindo, lindo, lindo! (como todos os outros daqui)
ResponderExcluirBeijão, fique com Deus.
Nossa valeu super a pena vir aqui, e ler esse lindo texto, encantador!
ResponderExcluirQuerida amiga
ResponderExcluirEnvelhecer significa,
ter um oceano de
lembranças dentro de nós...
Que sempre haja amor,
para alimentar de sentidos
sua vida.
Bom dia Luzia querida
ResponderExcluirÉ esse danado desse tempo que as pessoas tanto falam, que nos mostra o que ganhamos e o que perdemos na vida...
Lindo demais teu texto, fiquei com saudade da minha infância agora, brincávamos tão gostoso, sem preocupações. Era uma delícia.
Mas o tempo passou e agora brinco com a minha filhota. Mas não deixo de brincar nunca, porque tem coisas que o tempo não pode tirar da gente. A alegria é uma delas.
Beijos
Ani
Luiza: Não me conheces nem eu a ti vim visitar o teu blogue e acha linda a forma como descreves o teu passado e que possas escrever o teu presente. adorei a forma linda como escreves. vou seguir teu blogue.
ResponderExcluirBeijos
Santa Cruz
Na verdade, esse texto é fictício. Mas, alguns sentimentos eu extraí de dentro de mim.
ExcluirLuzia Medeiros
ExcluirGostei do texto e da foto ...foi vc quem tirou ?se foi como posso conseguir a autorização para uso desta imagem ?
Grato
Grande abraço
jorge Coelho
Tão lindo como você escreve :) Beijinhs
ResponderExcluirQue lindo, o passado sempre deixa marcas boas ou não. Mesmo que o tempo passe, ainda lembraremos do que foi vivido.
ResponderExcluirhttp://iasmincruz.blogspot.com.br/
Adorei suas palavras e seu blog! Seguindo
ResponderExcluirBeijos!
http://gmaterialistas.blogspot.com
@gmaterialistas
É quando perdemos tudo que aprendemos a dar valor as pequenas coisas.
ResponderExcluirBelo conto.
Beijo
É quando nossos valores mudam que passamos a gostar do que antes nos era quase desprezível, ou acreditar que seja felicidade o que antes era tédio, ou mesmo perceber que são qualidades aquilo que antes considerávamos defeitos. Os conceitos se invertem ao longo da vida, não é mesmo?
ResponderExcluirAdorei o texto! Obrigada pelo carinho com relação ao meu livro e parabéns pelo blog!