No meu relógio marcava 17:00hs. Naquele instante eu poderia ir até a janela do meu quarto que iria ver do outro lado da rua um senhor de aproximadamente setenta anos de idade, cabelos brancos feito algodão, olhar meio cansado e totalmente fixado naquela imensidão azul que chamamos de céu. Ele ficava lá todas as tardes, debruçado sob a varanda do seu velho sobrado. Aquela imagem de certa forma me deixava extremamente curiosa. Por que será que aquele homem fica ali todas as tardes? O que será que ele consegue ver que eu não consigo? Essas eram algumas das perguntas que eu costumava fazer.
Um dia, num domingo de sol ardente, fim de primavera. Meu coração ainda tão jovem estava sofrendo por carregar um grande amor, que iria partir na manhã seguinte. Talvez por me sentir com o coração dilacerado, resolvi ir até a casa daquele senhor.
Era umas 10:00hs da manhã quando bati a sua porta. Não sei o porquê, mas, meu coração batia descompassado. Segundos depois, ele abriu a porta devagar e me acolheu com um sorriso sereno. Fiquei sem saber o que falar, pois mal nos conhecíamos. Então depois que ele me convidou para entrar e sentar na sua humilde poltrona, me senti leve e falei da curiosidade que tenho sobre ele. Mas, para minha surpresa ele me disse que não poderia conversar comigo naquele momento, porque ainda tinha muitas coisas para fazer, inclusive o almoço. Fiquei triste ao saber que ele era tão sozinho, e tinha como companhia a terrível solidão. Depois de ouvi-lo um pouco, ele marcou para que eu fosse novamente a sua casa, no fim da tarde do mesmo dia.
A pontualidade sempre foi minha marca registrada, e então cheguei a sua casa no exato horário combinado. Subimos uma longa escada de madeira e finalmente chegamos à varanda, a mesma que eu o via todas as tardes. Senti minha alma leve, aquele sol vermelho, com tons amarelados, sumindo pouco a pouco dos nossos olhos, me deixava completamente extasiada e neste instante falei:
- Agora entendo porque você fica aqui toda tarde. O horizonte aqui é deslumbrante, primoroso. - E o senhor sábio disse:
- Sabe minha filha, esse horizonte tão majestoso, existe para todos, alguns é que não enxergam, porque simplesmente não quer. Antes eu também não enxergava. Quando perdi minha esposa há dez anos, eu insistia em me esconder do mundo e me trancava no meu mundo interior, um mundo infeliz. Porém quando resolvi enxergar a vida de um outro ângulo Deus fez brotar a alegria novamente dentro de mim.
Depois de algum tempo ouvindo-o falar, tive segurança de conta-lhe meu drama. Falei de um grande amor que eu tinha e por orgulho, por medo de perdoar seus erros, iria deixa-lo partir no orvalho da manhã seguinte. Naquele instante o senhor sorri para mim, e então lembrei que não havia nos apresentado, e me apresentei usando meu melhor sorriso:
- Me chamo Alice, e o senhor?
- Meu nome é Germano, mas acho que para uma amizade surgir, pouco importa saber ou não o nome, o que importa é o que nós iremos doar de bom e belo para um amigo, e agora que já sei teu nome, pequena menina, que ainda está à procura dos sonhos. Irei dar-te meu melhor conselho. Não espere o amor, nem tão pouco o homem perfeito bater a sua porta, pois isso poderá jamais acontecer. Corra atrás, conquiste seu amor, seus sonhos, não os deixe soltos, pois eles podem voar para muito longe. Aprenda que para o amor resistir ao tempo e as tempestades, é preciso saber perdoar e acolher até mesmo os erros e defeitos de quem se ama, por que ninguém é perfeito, nem mesmo o amor.
Enquanto ele me dizia aquelas palavras, meus olhos pareciam um rio de águas claras, águas com cheiro de amor e saudade do Frederico, meu único amor.
Na manhã seguinte despertei mais cedo do que o sol e sair correndo, descobri que o Frederico iria pra fazenda do seu tio, e fiquei na margem da estrada à sua espera. Quando a velha caminhoneta parou, subi depressa para viver para sempre junto dele. Apagamos o passado de brigas e recomeçamos do zero, num lugar calmo e distante, as margens de um rio, perto de uma linda montanha. A tranquilidade do rio e da paisagem ao seu redor me faz lembrar do senhor que me abriu os caminhos, me fez enxergar a vida. Sempre ao pôr-do-sol eu ouço suas palavras que ficaram para sempre ecoadas no meu coração.
Hoje depois de algum tempo, eu consigo enxergar o valor que tem um conselho de um amigo. Às vezes temos que silenciar e permitir que um alguém que carrega uma bagagem maior que a nossa, possa falar, abrir o coração e nos ensinar a viver, amar e perdoar, pois só assim saberemos trilhar os caminhos certos de um viver muitas vezes incerto.
(Luzia Medeiros)♥
Minha participação na 29° edição imagem, projeto suas palavras.
E as vezes as experiencias alheias, nos ensinam nesses longos passos dados pelo caminho da vida!!! Bjussss flor!!!
ResponderExcluirCom certeza, Tallita.Qualquer experiência é válida para nos ensinar algo, bom ou ruim.
ResponderExcluirBelo conto Luzia...tão inspirado e mto reflexivo! Parabéns!
ResponderExcluiroi tudo bem retribuindo visitinha...
ResponderExcluirmuito obrigada pelo comentario volte sempre...xauzinhoo bjss
Obrigada, Yohana. É bom saber que escrevi algo reflexivo.
ResponderExcluirAs vezes é tão importante ouvir um conselho, principalmente quando estamos querendo tomar uma decisão.
ResponderExcluirO conto ficou belo.
É sempre bom ouvir alguém com mais experiência de vida, pois nos mostra vários caminhos, nos abri outros horizontes.Obrigada pelas palavras.
ResponderExcluirUm conselho, dependendo de quem vem, vale mais até que nossas verdades.
ResponderExcluirGostei do texto :)
É Marcos, um conselho de um amigo sincero, pode mudar o rumo das nossas vidas.
ResponderExcluirOie linda.
ResponderExcluirMuito Obrigado pelo carinho.
Retribuindo a visita e te desejando um exelente domingo e uma semana proveitosa!
Bjos.
Quem tem uma longa estrada sabe bem o que dizer, porque já vislumbrou muitas paisagens, já passou por muitos caminhos diferentes e já viveu experiências distintas. As vivências de uma pessoa assim sempre alimentam sua sabedoria. Às vezes é bom mesmo ouvir palavras de pessoas sábias. Elas podem entrar no nosso coração a ponto de repensarmos nossas atitudes.
ResponderExcluirLindo texto!
Beijos!!
Obrigada pelo carinho, Thamires, ótima semana pra você.
ResponderExcluirÉ verdade Alexandre, quem já viu muitas paisagens, conhece muitos caminhos e carrega uma grande experiência na bagagem.
ResponderExcluirBeijos, adoro suas reflexões.
Adorei o seu texto, é tão bom ouvi o que o outro quer nos dizer com as sábias palavras conquistadas pela idade.
ResponderExcluirhttp://iasmincruz.blogspot.com/
Luzia, que coisa mais linda. "Não espere o amor, nem tão pouco o homem perfeito bater a sua porta, pois isso poderá jamais acontecer. Corra atrás, conquiste seu amor, seus sonhos, não os deixe soltos, pois eles podem voar para muito longe." É isso, que maravilhoso. Amei tanto que nem sei o que dizer haha.
ResponderExcluirUm beijo,
Nina! :3
Obrigada, minhas lindas, Lasmin e Nina.
ResponderExcluir"Não espere o amor, nem tão pouco o homem perfeito bater a sua porta, pois isso poderá jamais acontecer. Corra atrás, conquiste seu amor, seus sonhos, não os deixe soltos, pois eles podem voar para muito longe."
ResponderExcluirVou colar no meu mural
juro
:)
Será uma honra, viu Thaís.
ResponderExcluirE desde já agradeço, beijos.
Passando para desejar uma boa quita. Beijos Lu :)
ResponderExcluirObrigada por sua visita e carinho de sempre. Aproveita: tem promoção no meu blog pra todos que seguem e me dedicam carinho! =)
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirmuito bom o texto, nos faz refletir que a felicidade esta nas coisas mais simples como uma aurora ou pôr do sol, quando apredemos a dar valor a essas coisas aparentenente insignificante é que crescemos espiritualmente, dessa forma , a vida nos mostra onde realmente esta a felicidade.
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